
A linguagem e o laço a partir da fala encontra seu limite no exercício do poder que se impõe Real diante do sujeito onde não é reconhecido como tal. Diante do capital não há sujeito, diante da grande maquinaria de guerra não há sujeito. A linguagem é usada instrumentalmente pelo poder efetivo para provocar estados afetivos e sentimentais como efeitos de massas que sejam funcionais ao seu mecanismo de produção e gasto (repetição de mecanismo de gozo).

Para não sermos engolidos como sujeitos de desejo (numa relação com o desejo do outro) pelo discurso da individualização de cidadãos competitivos e de mérito próprio em função da própria reprodução mecânica do capital pelo capital é preciso provocar efeitos de sujeito. Os enunciados e discursos do capital promovem a individualização como (1) competidor em relação com os outros indivíduos numa sociedade competitiva e de poucas oportunidades de sucesso, (2) vitima do roubo do Estado por meio dos impostos, (3) alheia à politica que se apresenta como sinônimo de corrupção.



As pessoas não escolhem a "servidão voluntária" por estupidez ou covardia consciente apenas senão pelo modo em que se reconhecem como sujeitos identitários. O reconhecimento de si numa identidade evita ao Ego ter que lidar com a incerteza, o desamparo, o imponderável, a ausência de garantias, a singularidade e outorga um lugar que lhe permite dar sentido ao seu sofrimento. Se reconhecer no lugar do sometido mesmo no sofrimento pode ser mais "razoável" que dar o passo adiante sendo consequente com o próprio desejo que conduz ao real que se apresenta como sendo um evento fora de controle. O Ato que estabelece uma nova relação simbólica desde onde se responde ao real do gozo é o único ato transformador não só da realidade senão do sujeito da ação política que morre no ato deixando aparecer outro efeito de sujeito.

Quando se problematiza o capital temos que declarar não só uma definição em termos de economia senão qual é o lugar que lhe estamos dando, em que posição reconhecemos sua relação com o sujeito castrado e o gozo. Quando falamos de capital em economia devemos levar em consideração os corpos reais que gozam na execução real das estruturas de funcionamento de reprodução e incluir estes elementos nas fórmulas de cálculo e nos esquemas explicativos. Sem a inclusão do gozo e do desejo que se articula conflitivamente com a necessidade e o interesse a fórmula do cálculo ou o esquema de explicação econômica fica numa formalização vazia e ingenua por desconhecer o real dos corpos em jogo ou se trata de um discurso cínico do poder real que intencionalmente nega os corpos. Uma teoria econômica que ignora os corpos e os gozos serve para dar aspecto "científico" ao discurso do capital, funciona imaginariamente na produção da individualização e na enunciação de promessas ideias de gozo.
A resistência ao imperativo do Capital, (que se reproduz automaticamente e interpela ao sujeito enquanto individuo e exige uma resposta desde esse lugar, por isso, nunca é sem corpos reais que ocupam os lugares de execução do mecanismo de reprodução e motivam sem causa os desvios), se realiza desde a posição de sujeitos de desejo propiciando laços de amor e encontros de desejos em histórias de amor e de amizade, em projetos de construção coletiva em experiências de comum união onde o desejo se sustenta nos encontros e desencontros com relação ao desejo do outro, na experiencia do imponderável, do inútil, daquilo que não entra nas relações de troca e mercantilização, da doação, do dom, do gratuito, da demora trivial e sem pré-ocupação (no sentido de estar ansioso pela antecipação do evento e permanecer passivo), por isso no caso do desencontro é importante o desapego o que exige fazer "o luto da demanda histérica).
Como seria um contrassenso neste dispositivo conceitual propor o anterior como uma regra normativa para sujeitos da vontade que agora sim esclarecidos se propõem conscientemente a executar a regra ética e moral precisamos pensar o que isto significa num horizonte de ação política concreta.
Como seria um contrassenso neste dispositivo conceitual propor o anterior como uma regra normativa para sujeitos da vontade que agora sim esclarecidos se propõem conscientemente a executar a regra ética e moral precisamos pensar o que isto significa num horizonte de ação política concreta.
Capital ----> Sujeito barrado (nessa relação pode acontecer: imposição, interpelação, promessa ilusória de satisfação privilegiada)
Capital------> sujeito barrado (o capital se apresenta fora do cálculo como imposição absoluta como Real incalculável)
Sujeito barrado <---- Capital como (A) grande Outro não castrado ordena, exige, demanda, justifica o lugar de reconhecimento de si do sujeito e dá sentido ao seu sofrimento
Capital (imaginário) dá lugar às narrativas de promessa de felicidade que articuladas com o ordenamento simbólico conformam a realidade
Romper a realidade é um verdadeiro ato, aquilo que não é a repetição, aquilo que não tem predicado.
Numa sociedade estabelecida imaginária e simbolicamente romper a realidade que institui o reconhecimento de si dos sujeitos e das identidades coletivas e da consistência das suas instituições ordenadoras exige posições de sujeitos que se desconhecem de si, que se reconhecem como sujeitos do fenômeno que repetem e ao mesmo tempo se estranham nessa posição. Esses sujeitos devem poder estar em situação de poder se desapegar dos objetos de satisfação mínima e também do si mesmo que oferece a ilusão de garantia de continuidade do mesmo. Quando se afirmava no século xix que o proletariado não tinha nada a perder poderia talvez significar que estava disposto a perder tudo e se perder na revolução.
Tudo o que é sólido se desfaz no ar. O ato que provoca desidentificações e propicia novas relações identitárias tem o problema de lidar com o excluído. O outro excluído da relação identitária é um elemento constitutivo dessa relação. Não há identidade sem exclusão, sem aquilo que não é isto, isto é isto porque não é aquilo no ato de nomeação. Assim, o problema não é excluir ou expulsar o que não cabe na imaginarização e simbolização da relação identitária. O problema está no modo em que lido com o excluído, com o expulsado, com o resto da identificação. Daqui é que proponho três modos de relação (1) como alteridade (2) como adversidade (3) como resíduo. Esses modos de lidar com o excluído determina as ações políticas de um poder político estabelecido.
Continuará....
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