Na prova do Enem apareceu uma questão da filosofia que refere à mentira em Kant. Um problema complicado e controverso: Há direito de mentir por amor ao próximo? O tema continua sendo discutido. Não se trata de apenas uma mentira, mas se isso pode constituir um direito e, portanto, uma norma.
Mas eu acho que esse não é o nosso problema atual. Concordo com Dussel, nosso problema é o cinismo, a mentira e a difamação como ferramentas da luta cotidiana pelo poder e pela criação de opinião pública.
O problema não é mentir para se safar de alguma confusão ou para salvar um amigo.
O problema atual é o sujeito que, por exemplo, se horroriza de um nu aqui e denuncia a quem se horroriza de um nu lá e faz "política" com as duas situações em beneficio próprio ou para desacreditar seu adversário. Não estou pedindo coerência lógica. Não seria tão ingênuo. Mas esse é um exemplo de cinismo contemporâneo.
Outro exemplo é o oportunismo associado com a mentira descancarada. Por exemplo, ser contra as cotas universitárias em reuniões orgânicas da universidade e 15 dias depois dar palestras com fundamentos filosóficos em favor das cotas e fazer de conta que a anterior situação nunca existiu. É claro que o oportunismo faz parte da política, mas quando essa é a constante e se associa à negação dos fatos se trata de algo menos contingente.
O terceiro exemplo é a difamação como prática. Por exemplo, você começa a "plantar" em círculos de amigos ou em lugares de difusão anônima e massiva o boato de que alguém teria dito que X teria feito Y e que A teria ouvido que B, mas que você não tem nada a ver com isso. Você sabe que isso é mentira, mas mesmo assim você estimula o boato porque é útil para sua estratégia de poder.
Essas atitudes podem ser facilmente desmontadas quando a ansiedade de quem as articula começa a corroer o corpo. O sinal é muito claro: o sujeito somatiza.
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