domingo, 22 de septiembre de 2019

O quê significa politicamente a lei de Emergência Alimentar

Dia 18 de setembro, a Câmara de Senadores aprovou por unanimidade a lei de Emergência alimentar após uma breve sessão sem debate e com poucos oradores. A lei aprovada pelos Senadores pode ser entendida desde vários ângulos.

O primeiro que devemos apontar é que o neoliberalismo produz fome, que a meritocracia é uma ilusão para poucos e deixa a mercê da sua sorte, indefectivelmente ruim, aos mais desfavorecidos. Isso é uma recorrência na Argentina nos últimos 50 anos: foi assim depois da ditadura de 1968-1973, com o plano neoliberal do ministro Adalbert Krieger Vasena, que “conseguiu” abaixar os índices sociais e deteriorar a produção industrial; também foi assim com a ditadura cívico-militar de 1976-1983 que implementou o plano econômico liberalizante de José Alfredo Martínes de Hoz; o mesmo aconteceu nos governos privatizadores de Carlos Menem nos ’90, que implementou o plano de Domingo Cavallo (paridade cambial “um peso = 1 dólar”); e voltou a ser assim em 2001, com o ex presidente Fernando de la Rua e novamente Cavallo e sua retórica neoliberal. A dupla de la Rua-Cavallo deixaram o país  numa crise de tal magnitude que muitos pensaram que seria o fim dos ciclos de políticas neoliberais na Argentina.
Contudo, com promessas que sabiam que não cumpririam, Mauricio Macri e os diferentes partidos que compõem a aliança “Cambiemos” chegaram ao poder em dezembro de 2015 e, contrariamente ao que prometeram na campanha eleitoral - Pobreza Zero”-, aplicaram novamente um plano econômico neoliberal, utilizando como cortina de fumaça a acusação de corrupção do governo anterior, amplamente difundida pelos meios hegemônicos porém nunca provada.
É importante fazer um aparte para destacar que os três governos democráticos que aplicaram políticas econômicas liberais –Menem, de la Rua e Macri- chegaram ao poder mediante mentiras já que em campanha prometeram exatamente o contrário. De fato, Macri confessou, tempo depois, que se tivesse dito o que realmente faria no governo nunca teriam conseguido os votos necessários para ser eleito.

"Si yo les decía a ustedes hace un año lo que iba a hacer y todo esto que está sucediendo, seguramente iban a votar mayoritariamente por encerrarme en el manicomio" (Mauricio Macri, 29/08/2016)

Uma vez na Casa Rosada, Mauricio Macri e a equipe de governo, como prestidigitadores discursivos, retiraram do relato a crise de 2001, cujas consequências ainda eram presentes em 2015 na sociedade argentina, apesar dos avanços em matéria social dos governos kirchneristas (2003-2015). 
Ao mesmo tempo, fizeram um ajuste econômico que empobreceu a população, aumentando de forma desproporcional os preços dos serviços públicos, (energia elétrica, gás, água, combustíveis, pedágios, etc.), desvalorizaram a moeda argentina e congelaram de fato os salários. Também, sob pretexto de que o INDEC (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos) fazia medições tendenciosas –da inflação, da pobreza, etc.-, deixaram de publicar o índice por seis meses e mudaram a metodologia para “elevar artificialmente” a pobreza deixada por Cristina Kirchner a quase 30% (segundo medições anteriores realizadas pelo Centro CIFRA da Central dos Trabalhadores de la Argentina era de 19,4%). 
Como fizeram isso: 1) culparam o governo anterior pelo feroz ajuste desses 6 primeiros meses que o próprio governo macrista realizara; 2) aumentaram as quantidades necessárias de alimento que compõem a CBA (cesta básica alimentar) necessários para compor o índice da pobreza; e 3) abandonaram o índice feito pelo Observatório da Dívida Social  realizado pela UCA (Universidade Católica Argentina), que sempre foram superiores aos oficiais.
Desse modo, comparar a pobreza segundo os novos índices seria como comparar limões com tangerinas com o critério de ambos serem cítricos.
  
A parir desse novo patamar elevado, Macri pensava que seria mais fácil cumprir sua promessa de campanha: “Se quando minha gestão acabar a pobreza não tiver diminuído, então terei fracassado”. E fracassou! Quaisquer que sejam os índices adotados, a pobreza disparou e o governo teve que fazer acordo com a oposição, muito a contragosto, e aprovar por unanimidade a Emergência Alimentar para tirar o tema da agenda política e sonhar com uma virada eleitoral, cada vez mais irreal.  Esse foi o motivo pelo qual não houve debates e se limitou a quantidade de oradores muna brevíssima sessão, cumprindo uma condição imposta pelo governo que não compactuava com as medidas contidas na lei. 

domingo, 1 de septiembre de 2019

Mauricio Macri e o fim do relato neoliberal

Por: Ramiro Caggiano Blanco
Depois da crise de 2008, o governo de Cristina Kirchner teve dificuldades, como a maioria das economias do mundo, que conseguiu driblar, em termos gerais, fortalecendo o mercado interno. Isso significou, por um lado, aumento da atividade industrial que foi recuperando os seus níveis históricos prévios à crise de 2001, com a conseguinte necessidade de importar bens de produção e, por outro, uma diminuição das exportações (fruto do consumo interno dos bens industrializados) e um aumento dos produtos importados que as famílias argentinas passaram a demandar com a valorização do salário real. Isso significou uma necessidade extra de dólares para que os importadores pudessem quitar as dívidas no exterior.

A classe média também começou a viajar mais ao exterior e voltou ao seu esporte favorito: poupar estocando moeda americana “debaixo do colchão”. Foi assim que se ativou o controle de câmbio em 2011 para fazer frente a uma fuga de divisas provocada pelo que na Argentina se conhece como “golpe de mercado”. Essas restrições incomodaram a classe media que logo, sob o lema de falta de liberdade, ganhou as ruas de Buenos Aires no “panelazos”, muito diferentes àqueles da crise de 2001.

Jovem reclamando contra as restrições cambiárias no “cacerolazo” de 13 de setembro de 2012 .
Durante 4 anos, sistematicamente, dia sim e outro também, o partido de Mauricio Macri, à época prefeito da cidade de Buenos Aires, junto aos meios hegemônicos de comunicação, bateram na tecla da restrição à compra de moeda americana, que chamaram de “cepo” (aparelho que remete a um instrumento de imobilização dos escravos). Fizeram o principal slogan de campanha e, já na presidência em dezembro de 2015, permitiram a todos os cidadãos comprar até 5 milhões de dólares por mês, por pessoa. A liberdade havia triunfado!
Jornais americanos e europeus festejavam a grande solução dos problemas da economia argentina! Agora sim chegaria a “chuva de investimentos” estrangeiros proclamada por Macri na campanha eleitoral e no primeiro ano como presidente.
Cada vez que os jornalistas oficialistas, pagos com o generoso dinheiro da “pauta oficial”,  tinham que dar algum dado negativo da economia, logo “davam um desconto”: Ah, mas agora não temos “cepo”!
Pois bem, o “cepo” voltou, da mão do próprio Mauricio Macri, quem mais criticou e faturou politicamente com tal critica.
As medidas tomadas por decreto de necessidade e urgência, num domingo, são o fim do relato macrista, e a realidade econômica que se impõe. É o reconhecimento explícito que erraram em todas as medidas econômicas que adotaram.

E não é o efeito das eleições primárias PASO, como pretendem impor desde a Casa Rosada. Como disse James Carville: “[It’s] the economy, stupid”.

martes, 25 de junio de 2019

Atividades do segundo semestre de 2019 na UNICAMP

Atividades do segundo semestre de 2019 na UNICAMP
HF955 - Seminário de Orientação em Filosofia da Psicologia e da Psicanálise I
segunda-feira 14 horas
Professor: Daniel Omar Perez
A disciplina será ministrada no IFCH (algumas das aulas serão realizadas dentro da biblioteca em função do uso do material bibliográfico)
Programa: O seminário visa abordar os conceitos de Identidade e Identificação em Freud e Lacan em relação com a noção de Fantasia e Fantasma. Abordaremos os textos de Freud Psicologia das massas e análise do eu, Uma criança é espancada e Moises e a religião monoteísta, os textos de Lacan O seminário 9 e O seminário 14. Buscaremos reconstruir a teoria de Freud e de Lacan de uma constituição do sujeito a partir dos processos de identificação que se articulam em relação com a Fantasia no primeiro autor e com o Fantasma no segundo. Os estudantes apresentarão os resultados das suas pesquisas.
HF944 - Seminário de Orientação em História da Filosofia Moderna
segunda-feira 16 horas
Professor: Daniel Omar Perez
A disciplina será ministrada no IFCH (algumas das aulas serão realizadas dentro da biblioteca em função do uso do material bibliográfico)
Programa: O seminário visa trabalhar as noções de identidade, Eu e Sujeito na crítica da razão pura de I. Kant. Abordaremos diferentes interpretações, a saber, Martin Heidegger, Wolfram Horgrebe, Slavoj Zizek, Patricia Kitcher, Robert Hanna e Zeljko Loparic.
Disciplina de graduação
Terça-feira 19.00 horas FUNDAMENTOS DA pisicanálise
Título: Moises e seu povo, o egípcio e o judeu: entre o estranho e o familiar, o diverso e o incomum.
Resumo: O Moises de Freud é um estudo psicanalítico de uma história bíblica que busca refletir sobre a origem do monoteísmo, da unidade de um povo e da emergência de um líder. A história de Moises em geral e a leitura freudiana em particular têm sido objeto de desdobramentos e críticas em vários aspectos. A disciplina visa apresentar uma análise do texto que coloque de manifesto dois aspectos: um metodológico e outro categorial. Pretendemos abordar o procedimento metodológico da psicanálise com relação a eventos históricos, políticos e culturais, isto é, problematizar a possibilidade de usar a psicanálise para pensar não só um caso clínico, senão também o próprio dispositivo conceitual que nos possibilita acolher um fenômeno como é o caso da unidade de um povo, de uma coletividade, de uma comunidade. Assim sendo, buscaremos mostrar que, para dar conta da unidade do povo judeu, Freud deve exibir duas operações: 1. A unidade como uma produção feita a partir da diversidade; 2. O estranho como condição do familiar e do comum. Finalmente, com esse dispositivo conceitual, abordaremos apenas como exemplos as problematizações sobre a comunidade realizadas por Kant, Blanchot, Barthes, Agamben, Nancy e Espósito.
Programa:
Introdução: questões epistemológicas e metodológicas.
1. Conhecimento e etnia: a psicanálise é uma ciência judia?
2. Conhecimento e demarcação epistemológica: a psicanálise é uma ciência?
3. Conhecimento e prática clínica: a psicanálise é uma?
4. Conhecimento e metapsicologia: a psicanálise
Primeira parte: Moises
1. Os textos socioculturais de Freud: Totem, Mal-estar, O futuro, As massas, Moises.
2. A estrutura e os elementos de Moises de Freud e da leitura da Bíblia.
3. O que os pesquisadores afirmam do Moises de Freud?
4. Exame da questão do líder em Freud
5. Exame da questão do Deus em Freud
6. Exame da questão do Povo em Freud
Segunda parte: A comunidade
1. Pensar a vida em comum antes de Freud: Kant (A religião nos limites da simples razão) entre o dogmatismo estatutário e a fé racional.
2. Pensar a vida em comum depois de Freud: Blanchot (La comunidad inconfesable), Barthes (Como vivir juntos), Nancy (A comunidade inoperada), Agamben (A comunidade que vem) e Espósito (Comunitas. Origen y destino de la comunidade ) a partir do incomum.
Metodologia: aulas expositivas.
Forma de avaliação: trabalho final sobre um ponto específico do programa.
Horário da disciplina: terça-feira de 19 a 23
Horário de atendimento: terça-feira de 9 a 12 na sala B45 com horário marcado.
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Calendário:
Agosto
6 Apresentação do programa e introdução
13 Vladimir Pinheiro Safatle e Érico Andrade (visitantes) apresentação dos seus livros "Dar corpo ao impossível" e "Sobre Losers" .
20 Edmilson Paschoal (visitante) sobre Nietzsche, o niilismo, a sociedade gregária e o Über-Mensch
27 Alessandra Martins Parente (visitante) sobre Moises de Freud
Setembro
3 Conhecimento e etnia: a psicanálise é uma ciência judia? Conhecimento e demarcação epistemológica: a psicanálise é uma ciência?
10 Conhecimento e prática clínica: a psicanálise é uma? Conhecimento e metapsicologia: a psicanálise.
17 Os textos socioculturais de Freud: Totem, Mal-estar, O futuro, As massas, Moises.
24 A estrutura e os elementos de Moises de Freud e da leitura da Bíblia. O que os pesquisadores afirmam do Moises de Freud?
Outubro
1 Exame da questão do líder em Freud
8 Atividades na Europa (não haverá aulas)
15 Atividades na Europa (não haverá aulas)
22 Exame da questão do Deus em Freud
29 Exame da questão do povo em Freud
Novembro
5 Pensar a vida em comum antes de Freud: Kant (A religião nos limites da simples razão) entre o dogmatismo estatutário e a fé racional.
12 Pensar a vida em comum depois de Freud: Blanchot (La comunidad inconfesable), Barthes (Como vivir juntos), Nancy (A comunidade inoperada), Agamben (A comunidade que vem) e Espósito (Comunitas. Origen y destino de la comunidade ) a partir do incomum. Parte I
19 Pensar a vida em comum depois de Freud: Blanchot (La comunidad inconfesable), Barthes (Como vivir juntos), Nancy (A comunidade inoperada), Agamben (A comunidade que vem) e Espósito (Comunitas. Origen y destino de la comunidade ) a partir do incomum. Parte II
26 Entrega de trabalhos
Atividades de extensão:
1. Filosofia com diagnóstico de autismo com Rodrigo Castilho
2. Corujão. Filosofia com a comunidade com Lola Sayuri
3. Psicanálise e espaço público com Lauro Baldini
Orientações de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado
Atividades do CEMODECOM (CENTRO FAUSTO CASTILHO DE ESTUDOS DE FILOSOFIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA)
Atividades da Revista de Estudos Kantianos Kant e-prints

domingo, 23 de junio de 2019

O senhor instruiu SIM, Dr. Moro


O ex juiz Sérgio Moro afirmou que não via problemas nas falas que foram publicadas pelo The Intercept porque, segundo ele “Ali basta ler o que se tem lá” para perceber que não havia dado instruções aos promotores. Mas não é bem assim, vejamos.
Quando pensamos em fala, temos que nos ater não só as palavras pronunciadas –“o que se tem lá”-, como também as intenções com as quais foram proferidas e, principalmente, aos efeitos que produziram nos destinatários, efeitos quase sempre procurados pelo falante. (Austin, Teoria dos Atos de Fala).

Assim, quando o ex juiz Moro, desde seu lugar hierárquico preponderante na operação Lava Jato, pergunta aos promotores, “subalternos de fato” na mecânica própria da operação, se “não tem muito tempo sem operação?” – está dizendo, na verdade, “ponha a operação para funcionar, porque não pode deixar passar tanto tempo”. É o que se chama pedido indireto, por exemplo quando como você diz  numa loja “gostaria de ver uma aquela camisa branca” e a atendente interpreta “me mostra a camisa branca”. Foi o que aconteceu com o promotor Dallagnol que interpretou as palavras de Moro como um pedido prontamente cumprido, como aponta o site BuzzFeed (https://www.buzzfeed.com/br/gracilianorocha/moro-deltan-telegram).
Moro não precisa saber linguística para entender os mecanismos da fala e da sua interpretação, o direito já lhe fornece ferramentas para tal. De fato, quando se interpretam as leis também se atende a critérios semelhantes aos da teoria dos atos de fala. Primeiramente, interpretando literalmente o texto legal, palavra por palavra; depois tem que se interpretar “o espírito da lei”, o que ela de fato quer dizer. Assim, a placa da praça que proíbe a entrada de cachorros, não significa que alguém possa entrar com um urso, por exemplo. Esse exemplo clássico do direito derruba a desculpa do ex juiz de que ele não deu as instruções. Deu sim, porque de suas palavras foram inferidas e cumpridas as ordens pelos promotores.
Em outro trecho, indicou dar “instruções” a uma promotora que não ia muito bem nas audiências e que os promotores dessem alguns conselhos ou até treinamento. Tal indicação foi INTERPRETADA e CUMPRIDA como um pedido de substituição, como de fato aconteceu.

Mais uma vez, vemos que o ato de fala se realizou pelo que foi dito pelo juiz, pelo que foi interpretado pelos promotores e pelos efeitos produzidos. Não adianta, Dr. Moro, insistir só na literalidade das palavras.
                                                                                                          Yedda e Ramiro Blanco

jueves, 13 de diciembre de 2018

martes, 26 de diciembre de 2017

Nicarágua Nicaraguita de Carlos Mejia Godoy

Nicarágua Nicaraguita

de Carlos Mejia Godoy

Ay, Nicaragua, Nicaraguita
recibe como prenda de amor
este ramo de siemprevivas y jilinjoches
que hoy florecen para vos

Cuando yo beso tu frente
beso la perla de tu sudor
mas dulcita que la frutita de tibuilote
y el jocote tronador

Ay, Nicaragua, Nicaraguita
mi cogollito de pijibay
mi pasion se enterro
en ei surco de tu querencia
como un granito

Es tu saliva alaste y dulcita
como la savia del maranon
que restana con alegria todos los dias
mi rebelde corazon

Ay, Nicaragua, Nicaraguita
la flor mas linda de mi querer
abonada con la bendita Nicaraguita
sangre de Diriangen

Ay, Nicaragua sos mas dulcata
que la mielita de tamagas
pero ahora que ya sos libre, Nicaraguita
yo te quiero mucho mas



sábado, 9 de diciembre de 2017

Pueblo

Pueblo
es el nombre del artículo de Nora Merlin en Revista Imago que reproducimos aqui

Disponibilizamos el Link de la Revista
http://www.imagoagenda.com/articulo.asp?idarticulo=2332

Con Ernesto Laclau la categoría “pueblo” se transformó en un concepto que constituye un aporte fundamental tanto para la teoría política como para el psicoanálisis. La mayoría de los teóricos sociales que intentaron pensar esa categoría, lo hicieron prejuiciosamente: la abordaron como una noción portadora de un defecto y no lo diferenciaron del fenómeno de masas teorizado por Freud. Para la teoría política, el pueblo era un supuesto ontológico dado, un dato de la estructura social, una pertenencia a un determinado “ser nacional” al que había que identificarse. 

Por su parte, los escritos psicoanalíticos que abordaron la organización social, como “Tótem y tabú” y “El malestar en la cultura”, se toparon con el impasse freudiano que se evidencia en esos trabajos: el padre y la moral como fundamentos de la organización social producen allí un malestar circular y sin salida. En esas formulaciones Freud ubica al padre en el centro de la organización social: a su asesinato le siguen el pacto entre hermanos (que implica la renuncia pulsional a cambio del establecimiento de una organización carente de hostilidad), la culpa por el crimen cometido, el superyó, y la obediencia a un contrato, que primero es voluntario y luego deviene en imperativo superyoico. Freud afirma que esta “solución” moral fracasa en su propósito de pacificar las relaciones sociales, puesto que tiende a acrecentar el malestar y el autocastigo. 
Del mismo modo en que Lacan en el Seminario 10. “La angustia” corre el límite freudiano que colocaba al padre y al complejo de castración como fin del análisis, ese franqueamiento puede ser útil para pensar lo social. ¿Por qué la cultura organizada en torno al padre y la moral, que conduce al malestar, deberían constituir el fin de la historia?

A partir de los aportes del psicoanálisis y la lingüística, Ernesto Laclau desarrolló su teoría del populismo y transformó la categoría “pueblo”, la cual dejó de ser un objeto exterior estudiado por expertos para convertirse en un sujeto, un nuevo agente político constituido por la puesta en acto de una voluntad popular hegemónica. Laclau define al pueblo como una lógica política discursiva y articulatoria, fundamentada en una voluntad popular; aquel se produce en un acto instituyente y contingente, a partir de una pluralidad de elementos diferenciales. En la lógica discursiva del populismo, que tiene a la demanda como su unidad de análisis, operan dos modalidades de cadenas articulatorias, una diferencial y otra equivalencial, en las que intervienen significantes flotantes, vacíos, sobredeterminaciones, metáforas, etc. Una característica fundamental del populismo es la heterogeneidad: un exceso constitutivo primordial e irreductible que hace que el cierre de lo social sea imposible; a la vez, cierta fijación del sentido resulta necesaria, aunque ésta sea precaria e inestable. Para resolver esta dificultad, Laclau hace uso del objeto a de Lacan. La lógica del objeto a es coincidente con la de la hegemonía populista: en ambas un objeto parcial encarna la totalidad ausente. Una parte (el pueblo en el populismo) ocupa el lugar del todo que es imposible y establece así una división del campo social. 
El populismo, basado en la construcción de una voluntad popular, supone una experiencia de radicalización democrática. Constituye una nueva posibilidad respecto de la cultura, que permite correr el límite del padre y la moral como fundamentos de lo social –es decir aquello que Freud había postulado– al ubicar la imposibilidad en el lugar de la causa. En lugar de la religión freudiana, la política planteada como lógica populista supone otra conformación de identidad, ajena a la pasión por el Uno de la igualdad; pone en acto una pluralidad discursiva que no anula las diferencias sino que las reconoce, y que da lugar a antagonismos simbólicos posibles y hace comparecer a lo imposible. 
Una cultura singular, no esencializada en una moral universal (superyó), que concibe al sujeto como diferente, soberano, no sometido a procesos de obediencia, igualdad u homogenización, representa una posibilidad contingente de realización de una experiencia colectiva, una invención democrática, distinta a aquella basada en la renuncia, el sacrificio y la obediencia.


Nora Merlin es autora del libro Populismo y Psicoanálisis (Letra Viva, 2015).

Liberdade do que mesmo?



É verdade o que falam alguns. Zizek muitas vezes é confuso. Eu mesmo percebi isso o dia que Markus Gabriel me apresentou ele em Bonn, em 2012. Só consegui trocar algumas palavras que não chegariam a ser nomeadas como diálogo. Quando ele soube que eu era argentino, mas morava no Brasil, me perguntou se era porque tinha fugido da ditadura. A localização estava mais do que certa. Mas eu expliquei que era mais por causa do Menem. “Peronista”-disse ele. Bom, esse era o princípio da sua confusão. Nem mesmo Laclau conseguiu explicar para ele do que se trata o peronismo, não seria eu que tentaria semelhante campanha. Ele é confuso mesmo. 
Porém, quando é claro, ele é muito claro. Em algum lugar o filósofo explica que quando o sistema neoliberal vai te tirar a saúde pública universal te fala que na verdade está te dando a possibilidade de escolher quem você quer que te ofereça assistência, quando te tira a educação pública universal e gratuita na verdade te estaria dando a possibilidade de você escolher qual prestadora de serviços educativos você quer escolher e quando aplica projetos econômicos que eliminam postos de trabalho te está dando a possibilidade de ser um empreendedor. Não são nem confusão nem fantasia do filósofo esloveno, trata-se da fala do regime de Mauricio Macri na Argentina. Eles chamam ao desempregado como futuro empreendedor.

O neoliberalismo resignifica os termos e dá nome àquilo que te acontece. O discurso que se articula com isso e se repete até a sua naturalização nos reprodutores de discursos da grande mídia faz parte da estratégia de permanência no poder. Ainda quando se trate de pequenas frases ou falas auto-contraditórias o que está em questão em provocar um sentimento ou afeto no indivíduo da massa que assiste e recebe a mensagem. Duran Barba e sua equipe treina e trabalha com vários operadores desses discursos. Os outros vão aderindo.

domingo, 26 de noviembre de 2017

Do cinismo, do capital e do gozo ao ato

O cinismo pode ser a estrategia ética do excluído do sistema (do morador de rua, que já cortou os laços da consistência discursiva educadamente aceitáveis) porque sabe que com ele ninguém quer dialogar nem acordar, mas seu sometimento ou desaparição (porque a sociedade não reconhece nem o evento da sua morte enquanto sujeito de um acontecimento singular), porém, o cinismo também é uma das formas do poder, mas do poder real (daquele que joga golfe e decide uma situação cuja consequência é uma catástrofe humana), aquele que sabe que não há diálogo nem consenso senão o poder nu e cru.
A linguagem e o laço a partir da fala encontra seu limite no exercício do poder que se impõe Real diante do sujeito onde não é reconhecido como tal. Diante do capital não há sujeito, diante da grande maquinaria de guerra não há sujeito. A linguagem é usada instrumentalmente pelo poder efetivo para provocar estados afetivos e sentimentais como efeitos de massas que sejam funcionais ao seu mecanismo de produção e gasto (repetição de mecanismo de gozo).
Nessa posição meramente imaginária da linguagem a verdade (aquilo que nos expõe diante da própria falta, verdade como compromisso com uma realidade que nos mostra a própria limitação, a finitude, o equívoco, o mal-entendido) é substituída pela adesão a um enunciado ou discurso que não precisa ser razoável nem verosímil mas que permite almejar imaginariamente um gozo perverso (em relação com um outro tomado como objeto a ser descartado) e ou uma promessa de gozo, um usufruto privilegiado porque como individuo meritocrático, competitivo, empreendedor esforçado, inteligente e astuto numa sociedade onde cada um busca a sobrevivência e o sucesso pessoal, já cortou laços com a comunidade, apenas resta a realização individual ou no máximo em relação com os próprios sócios.
Para não sermos engolidos como sujeitos de desejo (numa relação com o desejo do outro) pelo discurso da individualização de cidadãos competitivos e de mérito próprio em função da própria reprodução mecânica do capital pelo capital é preciso provocar efeitos de sujeito. Os enunciados e discursos do capital promovem a individualização como (1) competidor em relação com os outros indivíduos numa sociedade competitiva e de poucas oportunidades de sucesso, (2) vitima do roubo do Estado por meio dos impostos, (3) alheia à politica que se apresenta como sinônimo de corrupção.
Isso se logra com efeitos de massa provocados por falas que mobilizam determinados afetos e sentimentos buscando a adesão hipnótica das maiorias. Uma das operações é usar valores morais e oferecer determinadas figuras como imorais e corruptas em quem descarregar todos os sentimentos de culpa provocados nele pela própria falta.Com a figura do corrupto o sistema oferece em quem descarregar o sentimento de culpa como sentimento de indignação dessa forma o sujeito não precisa lidar com aquilo que perturba a idealização de seu lugar privilegiado: tem outro pior que eu. Outra das operações de individualização é favorecer a vitimização (pessoal ou de grupo identitário). A vitimização corta os laços sociais, não reconhece a falta no outro nem no grande Outro. O outro semelhante não é reconhecido como sujeito de uma fala porque não "sofreu" aquilo que o individuo ou o grupo sofreu o sofre. Como se o sofrimento fosse em si um valor moral ou um a priori de posição política ou o princípio de uma autoridade moral. Não reconhece a castração no grande Outro porque coloca O Estado, A Sociedade etc como o culpado da castração e da insatisfação do sujeito. Assim, o Outro não castrado, é idealizado como O Poder sem falha, sem fenda, sem fissura que oprime sem condição nem limite. Assim, o Outro não castrado ou deveria ser eliminado idealmente ou nada poderia ser feito a não ser continuar sendo vitima e enunciando um discurso de denuncia e queixa setorial e limitada pelos elementos identitários.
A resistência à reprodução do capital pelo capital na época do discurso capitalista (lacaniano, como posição do sujeito como indivíduo tomado pelos objetos de consumo entre uma promessa de um gozo impossível que nunca chega e a realização de gozos perversos) está em fazer efeitos de sujeito, reconhecimentos identitários na diversidade e na contingência e desidentificações individuais e coletivas e promover a diversidade de satisfações parciais num horizonte de laços entre desejos, de desapegos a objetos e de vínculos sustentados simbolicamente diante do aparecimento do Real como algo a ser suportado mesmo na sua insuportabilidade e estranhamento.
O capital se apresenta ao sujeito (individual ou diante das identificações coletivas) como o Real que se impõe e rompe a articulação simbólica e imaginária (coloca em crise o que reconhecemos como realidade -nos referimos áquilo que Lacan chama de Fantasma- e demanda -como grande Outro- sua rearticulação aos sujeitos da falta), como grande Outro simbólico que ordena, que demanda, que goza sem castração, como imaginário onde se encontra a ilusão de uma promessa de gozo. O capital e a moeda não são meramente imaginários e nem se sustentam apenas numa crença, num ato de fé dos indivíduos. Podemos dizer que a moeda se sustenta na aceitação imaginária do seu poder por parte dos indivíduos reunidos numa sociedade. Mas a posição do sujeito nessa aceitação (expressa pelo indivíduo na sociedade) não é meramente imaginaria. É um lugar cristalizado desde onde o sujeito responde ao gozo. Há estrutura e não apenas indivíduos mais ou menos livres e autônomos ou mais ou menos ingênuos e incrédulos.
As pessoas não escolhem a "servidão voluntária" por estupidez ou covardia consciente apenas senão pelo modo em que se reconhecem como sujeitos identitários. O reconhecimento de si numa identidade evita ao Ego ter que lidar com a incerteza, o desamparo, o imponderável, a ausência de garantias, a singularidade e outorga um lugar que lhe permite dar sentido ao seu sofrimento. Se reconhecer no lugar do sometido mesmo no sofrimento pode ser mais "razoável" que dar o passo adiante sendo consequente com o próprio desejo que conduz ao real que se apresenta como sendo um evento fora de controle. O Ato que estabelece uma nova relação simbólica desde onde se responde ao real do gozo é o único ato transformador não só da realidade senão do sujeito da ação política que morre no ato deixando aparecer outro efeito de sujeito.
Isto me faz duvidar de seguir utilizando a noção de desejo de fascismo. Hoje sou inclinado a pensar que se desejo é falta e excesso e o reconhecimento disso desde uma posição de sujeito como sujeito da falta o fascismo obtura a falta e a nega. Porém sem com Lacan admitimos um desejo perverso então poderia haver um desejo de fascismo onde o sujeito corre atrás de uma promessa de completude, totalização e satisfação absoluta. Por cautela aqui sempre falaremos de desejo como sujeito da falta e reconhecimento da mesma desde uma posição de sujeito. Em vez de continuar falando de desejo de fascismo entenderemos o evento do fascismo como um modo do sujeito não lidar com a falta e se sustentar como sujeito numa promessa de gozo privilegiado que lhe é devido de direito.
Quando se problematiza o capital temos que declarar não só uma definição em termos de economia senão qual é o lugar que lhe estamos dando, em que posição reconhecemos sua relação com o sujeito castrado e o gozo. Quando falamos de capital em economia devemos levar em consideração os corpos reais que gozam na execução real das estruturas de funcionamento de reprodução e incluir estes elementos nas fórmulas de cálculo e nos esquemas explicativos. Sem a inclusão do gozo e do desejo que se articula conflitivamente com a necessidade e o interesse a fórmula do cálculo ou o esquema de explicação econômica fica numa formalização vazia e ingenua por desconhecer o real dos corpos em jogo ou se trata de um discurso cínico do poder real que intencionalmente nega os corpos. Uma teoria econômica que ignora os corpos e os gozos serve para dar aspecto "científico" ao discurso do capital, funciona imaginariamente na produção da individualização e na enunciação de promessas ideias de gozo.
A resistência ao imperativo do Capital, (que se reproduz automaticamente e interpela ao sujeito enquanto individuo e exige uma resposta desde esse lugar, por isso, nunca é sem corpos reais que ocupam os lugares de execução do mecanismo de reprodução e motivam sem causa os desvios), se realiza desde a posição de sujeitos de desejo propiciando laços de amor e encontros de desejos em histórias de amor e de amizade, em projetos de construção coletiva em experiências de comum união onde o desejo se sustenta nos encontros e desencontros com relação ao desejo do outro, na experiencia do imponderável, do inútil, daquilo que não entra nas relações de troca e mercantilização, da doação, do dom, do gratuito, da demora trivial e sem pré-ocupação (no sentido de estar ansioso pela antecipação do evento e permanecer passivo), por isso no caso do desencontro é importante o desapego o que exige fazer "o luto da demanda histérica).
Como seria um contrassenso neste dispositivo conceitual propor o anterior como uma regra normativa para sujeitos da vontade que agora sim esclarecidos se propõem conscientemente a executar a regra ética e moral precisamos pensar o que isto significa num horizonte de ação política concreta.
Capital ----> Sujeito barrado (nessa relação pode acontecer: imposição, interpelação, promessa ilusória de satisfação privilegiada)
Capital------> sujeito barrado (o capital se apresenta fora do cálculo como imposição absoluta como Real incalculável)
Sujeito barrado <---- Capital como (A) grande Outro não castrado ordena, exige, demanda, justifica o lugar de reconhecimento de si do sujeito e dá sentido ao seu sofrimento
Capital (imaginário) dá lugar às narrativas de promessa de felicidade que articuladas com o ordenamento simbólico conformam a realidade

Romper a realidade é um verdadeiro ato, aquilo que não é a repetição, aquilo que não tem predicado.
Numa sociedade estabelecida imaginária e simbolicamente romper a realidade que institui o reconhecimento de si dos sujeitos e das identidades coletivas e da consistência das suas instituições ordenadoras exige posições de sujeitos que se desconhecem de si, que se reconhecem como sujeitos do fenômeno que repetem e ao mesmo tempo se estranham nessa posição. Esses sujeitos devem poder estar em situação de poder se desapegar dos objetos de satisfação mínima e também do si mesmo que oferece a ilusão de garantia de continuidade do mesmo. Quando se afirmava no século xix que o proletariado não tinha nada a perder poderia talvez significar que estava disposto a perder tudo e se perder na revolução.

Tudo o que é sólido se desfaz no ar. O ato que provoca desidentificações e propicia novas relações identitárias tem o problema de lidar com o excluído. O outro excluído da relação identitária é um elemento constitutivo dessa relação. Não há identidade sem exclusão, sem aquilo que não é isto, isto é isto porque não é aquilo no ato de nomeação. Assim, o problema não é excluir ou expulsar o que não cabe na imaginarização e simbolização da relação identitária. O problema está no modo em que lido com o excluído, com o expulsado, com o resto da identificação. Daqui é que proponho três modos de relação (1) como alteridade (2) como adversidade (3) como resíduo. Esses modos de lidar com o excluído determina as ações políticas de um poder político estabelecido.


Continuará....



Na Argentina a maioria das pessoas se horroriza com a palavra nazi ou Hitler. Não sei porque.

Na Argentina a maioria das pessoas se horroriza com a palavra nazi ou Hitler. Não sei porque.
Hoje boa parte da sociedade argentina parece não só não se importar com a perseguição e assassinato de membros de comunidades originárias, muitos deles apoiam a brutalidade do governo do regime de Mauricio Macri. Mais ainda, na Argentina vc poderá ver ruas, praças, avenidas e prédios com o nome Julio Argentino Roca. Esse sujeito foi quem propus e executou o extermínio dos habitantes originários para entregar as terras aos contrabandistas do Porto de Buenos Aires. Seria como ter ruas com o nome de Hitler em Berlin, para mim é inimaginável. Bom, na Argentina pode.
O racismo, o fascismo, as práticas de extermínio não são apenas um acontecimento europeu. Argentina tem uma tradição consistente e boa parte da sua população continua cultivando essa perversão. O engraçado é que esse setor social e político sempre se fez chamar de liberal. O dramático é que o exercício do poder político em suas mãos coloca em funcionamento uma máquina cínica com detalhes de perversão sem necessidade. Mas isso não deve nos surpreender.
O perverso está sob o mando do Outro numa exigência de gozo e por isso sua saída pulsional é perversa.
Na Argentina a perversão da oligarquia fazendeira portenha atua sob a sombra da metrópole que garante que seus "excessos" não sejam punidos. A esse esquema se articula o ódio e o ressentimento de pessoas de classe trabalhadora e classe média que, em função de uma promessa de gozo se submetem ao poder do Senhor.

A volta da Colônia e a escravidão

Na Argentina essa semana um submarino explodiu com 44 tripulantes aparentemente na zona de exclusão que Inglaterra colocou unilateralmente depois da guerra de 1982 que ainda lembro porque na época tinha 14 anos e algumas pessoas de 18-19 anos que eu conhecia foram convocadas e estiveram em combate.
Na Argentina ontem um membro da comunidade Mapuche na Patagônia foi assassinado por forças oficiais de repressão sob ordem do governo do regime de Mauricio Macri. Mesmo após encontrar o corpo morto de Santiago Maldonado após a repressão da Gendarmeria sob mando do governo, este nunca parou de reprimir a comunidade Mapuche na Patagônia.
No norte da Argentina, na cordilheira dos Andes o governo mantem presa a Milagro Sala e suas companheira, elas são indígenas e militantes sociais.
O que tem a ver uma coisa com a outra?
A reposta está na história argentina que começa em 1800 quando um grupo de contrabandistas operando no Porto de Buenos Aires começa a "trabalhar" para os barcos ingleses no Rio de la Plata.



sábado, 25 de noviembre de 2017

ARGENTINA Y LA DOCTRINA DEL SHOCK (LO PEOR ESTÁ POR LLEGAR



3.1.16


ARGENTINA Y LA DOCTRINA DEL SHOCK (LO PEOR ESTÁ POR LLEGAR) de Eduardo Aguirre

La Argentina vive horas de intensidad sin precedentes. El gobierno de las grandes corporaciones del capital transnacional, la embajada y sus socios locales, huyen hacia el pasado reciente por un camino no del todo conocido. Es que los dueños actuales de la empresa del Plata hacen que Macri (nominalmente) ejecute sobrepasando incluso los límites que se había autoimpuesto la propia dictadura militar. A la pérdida de los derechos sociales y económicos conquistados por el kirchnerismo, la derecha autoritaria añade la agresión sistemática y acelerada de derechos y garantías políticas y civiles que se expresa de las maneras más variadas. La pregunta es por qué el gobierno de Cambiemos ha renunciado a la utopía de una construcción política y quiere “ir por todo” haciendo frente a las máximas canónicas de los estados democráticos burgueses. 

Una de las respuestas podría estar dada por la necesidad de generar condiciones diferentes en el país y la región, de cara a la agudización de la conflictividad que enfrenta al imperialismo con potencias antagónicas emergentes, aceptando que América Latina pueda transformarse en un nuevo campo de Marte. Esto explica la forma en que se aplica actualmente la doctrina del shock (y el "capitalismo del desastre") que describía Naomi Klein. Se trata de una doctrina creada al influjo del referente de la Escuela de Chicago, Milton Friedman, que plantea la necesidad de desarticular todo vestigio del Estado de Bienestar y promover una globalización neoliberal sin anestesia con formato de blitzkrieg. Esta tesis implica, por supuesto, la supresión del rol social del Estado, la más plena discrecionalidad de las empresas y una preocupación social nula. Un verdadero genocidio que pretende "encontrar oportunidades" para el capital en los más terribles escenarios de desastres y masacres. Para eso, para perpetrar el capítulo argento del nuevo escenario de control global punitivo, Macri ( o, mejor dicho, los verdaderos gestores del poder plutocrático) necesitan coaligarse con los sectores más reaccionarios del país, y buscar auxilio especialmente en los pliegues más conservadores del peronismo -de hecho lo están haciendo- (1) y valerse de las limitaciones ideológicas y las prácticas políticas del kirchnerismo que, a diferencia de los gobiernos de Bolivia y Ecuador, por ejemplo, resignó los antagonismos fundamentales y dejó demasiados resortes vitales de la economía y la batalla cultural en manos adversarias. El gobierno intenta, en consonancia con ese objetivo, profundizar el aislamiento de los sectores populares a partir de una campaña de silenciamiento de las voces opositoras, que también alcanza niveles escandalosos. Como dice Michell Collon, en las guerras (el mundo lo está, y la Argentina no está al margen de esa conflictividad) llegan antes las mentiras que las bombas. Pero todo llega, y de las peores maneras que pudiéramos imaginar. Lo que cambia es el formato de los instrumentos de aniquilamiento de las experiencias emancipatorias reformistas. Desde el golpe de Pinochet hasta las intervenciones en África, la antigua Yugoslavia o América Latina surca el escenario de las nuevas formas de dominación una multiplicidad de denominadores comunes. El verdadero rol del estado, aquel de quien durante más de doce años esperamos transformaciones estructurales, reaparece en su forma más althusseriana. He aquí el nuevo estado de los CEOs que anticipaba Zizek. En breve, es posible que tengamos la evidencia explícita de la ligazón internacional de las políticas del macrismo. El TPP bien podría encarnar el tramo más duro de la pérdida de soberanía política y jurídica y la concreción definitiva de la consigna “todo el poder a las multinacionales”. Estemos atentos, por exhibir sólo un dato, con lo que puede ocurrir con los medicamentos. Esa es una clave de barbarie ya expresada por Lagarde. Los sectores vulnerables son un “problema” del que, sin embargo, es posible sacar provecho en el estrago del shock.

 (1) Aclara Morales Solá, en su columna habitual en el diario La Nación. “A Macri le quedan los gobernadores peronistas, los intendentes del conurbano y los sindicatos para enhebrar un diálogo político. Ese peronismo también sabe que su peor receta sería aferrarse al revanchismo del cristinismo. Mucho más cuando descubrió que hay un Presidente dispuesto a disputarle el poder a Cristina, palmo a palmo”.

  
Nos interesa compartir con ustedes un debate crucial sobre el tratado de libre comercio, producido en una de las ediciones de "Fort Apache", el programa que conduce Pablo Iglesias por Hispavisión. 

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